terça-feira, 17 de julho de 2018

Dignidade humana à luz da Bíblia


Olá, JusAmiguinhos. Para quem não sabe ainda eu sou cristão protestante e conservador, mas sinceramente tenho muito medo do que alguns dos meus pares anseia conservar e tenho dúvidas se a Bíblia que lemos é a mesma.

Aos que estudam Direito peço licença para nesse momento deixar de lado toda a fundamentação filosófica existente sobre o tema (sei que Platão e Kant irão entender), porque quero me dirigir àqueles que se dizem, ao menos nominalmente cristãos, e que muitas vezes me acusam de ser esquerdista, mas que sequer conhecem o livro sagrado no qual dizem crer.

O que é a dignidade humana?

A grosso modo, é um valor intrínseco à característica de ser humano que lhe assegura uma série de direitos, em face do respeito à condição humana.

Dignidade humana – imagem e semelhança

Todas as coisas foram criadas por Deus (Gênesis 1) e ao homem foi dada autoridade sobre a Criação (Gênesis 1:26), porém o exercício de autoridade ensinado por Cristo é em amor e em cuidado, logo entendendo que tudo pertence a Deus (Salmo 24:1) e em obediência ao Criador o homem tem o dever de respeitar a natureza e por certo os demais seres humanos.

No caso do ser humano isso se reveste de particular importância, visto que o homem foi feito à imagem e semelhança (tselem/demuth) do Deus vivo (Gênesis 1:26), isto é, o homem é similar a Deus, possuindo o mesmo molde, a mesma estrutura.

Dignidade humana - posição ímpar na criação

Não só por isso, mas por sua posição ímpar em meio a criação (Salmo 8:5), o homem só pelo fato de ser humano deve ser respeitado e preservado.

Dignidade humana – amor de Deus

Um dos pilares do cristianismo é o amor de Deus para com o homem, a ponto de sacrificar seu próprio filho para nos salvar (João 3:16), ou seja, um amor que se manifesta em sacrifício e renúncia em prol do outro, o qual nesse caso não merece esse amor (Romanos 5:8).

Dignidade humana – amor ao próximo

Um dos deveres do homem é amar ao próximo, mas o critério que até o tempo da Lei de Moisés era a si próprio (Marcos 12:33) a partir de Cristo se altera (João 13:34), de modo que até aquele que não tem amor próprio tem o dever de amar o próximo, pois o parâmetro foi o sacrifício na cruz.

Lembrando que o amor aqui é incondicional e não pode se limitar pelas práticas perversas do outro (70 x 7).

Tudo bem é bíblico, mas e daí?

Daí que se dignidade humana é bíblica, então muitas posições político-ideológicas não podem ser sustentadas por quem é cristão, sob pena de apostasia (abandono da fé) em prol de convicções pessoais.

Tortura, violência policial desnecessária, “justiça” com as próprias mãos, pena de morte, e também a célebre frase “bandido bom é bandido morto”.

Quando ouço essa frase vinda de quem afirma ser cristão, logo penso fariseu bom é fariseu calado.

Deus não tem prazer na morte do ímpio, aquele que ainda não é verdadeiramente cristão (Ezequiel 33:11). Como eu, filho de Deus, poderia ter prazer nisso e ainda defender que essa seja uma escolha política do país em que vivo?

Quando o ímpio morre pelas nossas mãos, o condenamos automaticamente ao inferno e esse sangue eu não quero sobre mim.

É muito legal quando a graça é sobre nós e a lei sobre eles, mas isso é usar dois pesos e duas medidas e Deus abomina (Provérbios 20:10), afinal você também é pecador.

Porque pecador bom é pecador morto (Romanos 6:23) e todos pecaram, logo ninguém merece perdão, mas o perdão é pela graça e não pelo merecimento (Efésios 2:8-9).

Crer no evangelho é crer que Deus muda as pessoas e que a Palavra transforma vidas, mas se eu não creio nisso então posso me contentar em uma solução na qual simplesmente jogamos as pessoas como lixo humano em depósitos por anos a fio onde ninguém veja.

Não defendo impunidade, mas defendendo obediência à lei dos homens, dando a César o que é de César, na medida em que não contraria frontalmente a lei de Deus.

Devido processo, direitos fundamentais, progressão penal, ressocialização, justiça social, políticas afirmativas e todo o resto não é papo de comunista é decorrência da dignidade humana e, portanto, são temas com fundamento bíblico.

Desculpem, meus caros irmãos, mas não sei que Bíblia vocês andam lendo, mas os valores que os que hoje se proclamam conservadores querem conservar não são os mesmos que eu, inclusive duvido que sirvamos ao mesmo Deus, afinal, quem recebe misericórdia, exerce misericórdia.

2 comentários:

  1. Excelente texto! Misericórdia sobre misericórdia, Deus deseja que sejamos reparadores de brechas, ver como Ele vê. E quem tem um real encontro com o Mestre, tem olhar compassivo, deseja ardentemente que Cristo faço com o outro o que fez por nós. Abra os olhos espirituais desse povo JESUS!

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