JusAmiguinhos, não é segredo pra
ninguém que as coisas estão mais caras. Basta dar uma volta no supermercado e
você verá que tudo está pela hora da morte.
No meio de tudo isso, a mídia deu
destaque ao preço do arroz e isto não só pela subida violenta (tem lugares que
o saco de 5 kg arroz está custando mais de R$ 40), mas porque se trata de um
produto básico da alimentação do brasileiro.
Nós comemos basicamente arroz,
feijão e um prato principal (aqui chamam de mistura), que pode ser carne,
frango, linguiça, ovo, enfim.
Quando a inflação (alta dos
preços) atinge esses produtos de primeira necessidade, os que mais sofrem são os
pobres, porque a maior parte de sua renda já é gasta com esses produtos, de
modo que ficam em uma situação muito complicada e com pouca e ou nenhuma
alternativa do que comprar.
Por que o arroz está caro?
Não sou nenhum especialista em
economia, mas mesmo com um conhecimento raso eu posso explicar pra vocês o
seguinte: preços são determinados pela regra da oferta e da demanda. Se tem
muito produto disponível pra vender (alta oferta) e pouca gente querendo
comprar (baixa demanda), os preços baixam, mas se tem pouco produto disponível
no mercado (baixa oferta) e muita gente querendo comprar (alta demanda) os
preços sobem.
No Brasil de hoje, nós temos pelo
menos dois fatores que aumentaram a demanda: a quarentena e o auxílio-emergencial.
A quarentena aumentou o consumo de alimentos, porque as pessoas
presas em casa ou fazendo homeoffice ficam mais ansiosas e quem está ansioso
come mais. Se as pessoas estão comendo mais, elas estão comprando mais
alimentos o que gera uma alta de demanda, jogando os preços pra cima.
O auxílio-emergencial contemplou pessoas pobres e abaixo da linha da
pobreza, pessoas que o Estado sequer sabia que existiam com uma renda mínima
que lhes permitiu sobreviver em meio a essa crise do coronavírus. Acontece que
essas pessoas que comiam mal ou quase não comiam puderam utilizar o valor de R$
600,00 para comprar alimentos, o que aumentou ainda mais a demanda e
consequentemente os preços.
Mas o pior de tudo é que a
política cambial desastrada do governo Bolsonaro permitiu uma forte alta do dólar (hoje, dia 17 de setembro
de 2020, o dólar está custando R$ 5,24) e esse, arrisco dizer, é o principal fator
que está gerando o encarecimento dos alimentos.
Com a alta do dólar, os produtores de arroz e outros produtos
alimentícios brasileiros encontraram uma ótima oportunidade de lucrar. Por que
vender pra dentro do Brasil em real (que está desvalorizado), quando se pode vender
pra fora do Brasil e ser pago em dólar?
Nesse contexto, exportar pode ser
até 5 vezes mais lucrativo do que vender para os próprios brasileiros. Isso
gerou uma baixa na oferta, pressionando os preços dos alimentos pra cima.
Deu pra entender o motivo de ter
lugares em que o arroz está custando mais de R$ 40?
O que o governo fez para resolver esse problema?
1 - O presidente fez um
pronunciamento em rede nacional pedindo aos donos de supermercado que tivessem
patriotismo e baixassem o preço dos produtos.
Vocês acham que isso funciona em
algum lugar do mundo?
Gente, empresário trabalha pra
ganhar dinheiro. A razão de ser de um empreendimento, a despeito dos discursos
bonitinhos de marketing, é gerar lucro para os seus donos.
Não faz qualquer sentido imaginar
que os donos de supermercados baixariam preços porque o presidente pediu ou por
serem patriotas. Até porque eles subiram os preços porque estão comprando mais
caro dos produtores!
2 - Uma secretaria vinculada ao Ministério da Justiça notificou os
donos de supermercados para explicar a alta dos preços.
Isso na verdade foi um jogo de
cena. Eu que não sou economista pude perceber claramente ao menos os principais
motivos que levaram a alta dos preços. Se queriam saber o motivo, deveriam
perguntar ao Ministério da Economia que tem um monte de técnicos formados e
pagos pra monitorar o país, o mercado e dar esse tipo de resposta.
Foi, na verdade, um movimento
político para o governo sair de bonzinho e os donos de supermercado de vilões.
3 - Zerou a alíquota do Imposto de Importação
Essa talvez foi a medida mais sem
sentido, na minha humilde opinião, e vou explicar as razões.
Nosso país é reconhecido no mundo
como um dos maiores exportadores de comodities (esses produtos de primeira
necessidade), ou seja, nós somos grandes produtores de alimentos.
Imposto de importação incide
sobre o que vem de fora, logo zerar a alíquota barateia o produto importado. Eu
te pergunto: qual a última vez que você comeu arroz importado?
Eu sinceramente não lembro se
alguma vez na vida eu comi arroz que não fosse de alguma marca nacional, tipo
Tio Jorge, Tio João e Vó Nina.
Produtos importados são mais
caros que os nacionais, porque incidem vários tributos, um deles é o ICMS que
pertence aos Estados e o governo não pode mexer, além do que, como os Estados
vão mal das pernas, realmente não tem como baixar ICMS.
Fora isso, pra essa ser uma estratégia
viável (comprar de fora), teria que ter de quem comprar!
Não podemos esquecer que todos os
países enfrentaram o coronavírus, então lá também estão comendo mais e também
implementaram coisas parecidas com o auxílio-emergencial, o que significa que
os alimentos deles também estão mais caros. A diferença é que eles podem comprar
mais barato no Brasil.
É como se o governo dissesse
vamos lá fora procurar reforços, mas nós é que somos os reforços (não faz
sentido a gente produzir o arroz e não ter arroz pra nós mesmos!).
O que o governo deveria ter feito?
O governo sempre acha culpados
para os seus fracassos e tenta se eximir da responsabilidade (os bodes
expiatórios da vez são os supermercados).
O que não te contaram é que um
dos deveres de um governo é garantir que o país não passe por um cenário de
desabastecimento. Existem limites regulatórios que determinam uma quantidade
mínima de toneladas de arroz, feijão, milho, soja que deve permanecer no país,
para consumo interno.
Como o governo é ultraliberal e
acha que não se deve intervir no mercado e que a economia se autorregula eles
deixaram os estoques baixarem muito além dos limites mínimos. Por isso estão
sendo praticados preços abusivos pelo pouco que sobrou nos estoques.
O governo poderia ter aumentado o
Imposto de Exportação, tornando mais caro para os produtores de arroz e outros
alimentos vender pra fora. Sendo forçados a vender pra dentro, isso aumentaria
a oferta no mercado interno e consequentemente baixaria o preço.
O presidente poderia parar de
brigar com os governadores e investir na testagem em massa da população, o que
aceleraria a reabertura do comércio e retorno das pessoas às suas atividades
fora de casa, reduzindo a ansiedade e, consequentemente, o consumo de
alimentos.
O governo poderia dar suporte aos
inúmeros pequenos e médios produtores que não estão no mercado externo para que
eles pudessem suprir a produção que os grandes deixaram de lado.
Por que não fez?
O governo não fez nada disso
porque o compromisso de Bolsonaro nunca foi com o povo, mas sim com os grandes
empresários que o financiaram e o ajudaram a se eleger.
Eles pagaram caro contratando
robôs, disparos automáticos, fazendo campanhas, constrangendo funcionários e
agora voltaram pra cobrar a conta.
Dos grandes empresários eu não
espero nada, quem tem compromisso com o povo brasileiro são os seus
representantes eleitos.
Nós não queremos tabelamento de
preços, sabemos que isso não funciona, mas deixar o mercado solto gera profunda
desigualdade social, miséria e fome. O governo federal dispõe de inúmeros mecanismo
extrafiscais que permitem intervir na economia incentivando ou não certas
práticas e certos setores.
O que falta é vontade política e senso
prioridade. Quem é sua prioridade, presidente? O seu povo ou os seus amigos da
bancada ruralista? O que é mais importante? O brasileiro ter comida na panela
ou a margem de lucro das elites?
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